sábado, 25 de junho de 2011

Visita ao Bairro Industrial de Aracaju/SE

No dia 18 de junho de 2011, realizou-se a visita ao Bairro Industrial organizada e orientada pelos professores Dr. Antonio Lindvaldo, coordenador da disciplina Temas em história de Sergipe II, e o professor Luiz Antônio, com a finalidade de discutir a história de Aracaju na visão dos homens pobres e dos operários das fábricas do Bairro Industrial.
Inácio Barbosa transferiu em 17 de março de 1855 a Capital de Sergipe, que era em São Cristóvão, para Aracaju sancionando a resolução 413.
A construção da cidade de Aracaju foi planejada pelo engenheiro Sebastião Basílio Pirro, por este motivo ficou conhecido o centro de Aracaju como o quadrado de Pirro.
Plano urbanístico de Aracaju era audacioso para a época já que a cidade foi implantada numa área de pântanos e charcos.
Pirro elaborou um plano de alinhamento.
Dentro de um quadrado de 540 braças, ou seja, 1.188 metros, com traçados de quarteirões iguais, de forma quadrada, com 55 braças de largura, separados por ruas de 60 palmos. (..) Todas as ruas foram arrumadas geometricamente, como um tabuleiro de xadrez, para desembocarem no rio Sergipe. (http://emefac.vilabol.uol.com.br/wilker/ahistori.htm)

Aracaju ficou conhecida como cidade jardim, moderna para época.
Nas primeiras décadas do século vinte (décadas de 10, 20 e 30), a elite mora em Aracaju, mas estuda fora. As cidades brasileiras neste período seguiam o modelo europeu, em especial as cidades de Paris, na Franca, e Berlim, na Alemanha, temos como exemplo o Rio de Janeiro. Como os intelectuais mantém contatos com o Rio de Janeiro, copiam modelos de construção também europeu.
Esta primeira concepção só se manteve nos seus primeiros 50 anos, entre 1855 e 1905, quando seus limites foram extrapolados quando a população menos abastada começou a pular o "quadrado de Pirro".
Neste período Aracaju não se desenvolveu. A cidade passa por epidemias, entre elas a da cólera que matou Inácio Barbosa.
O centro do poder político - administrativo, (atual praça Fausto Cardoso) foi o marco zero, isto é, o ponto de partida para o crescimento da cidade.
Aracaju aterrou muitos manguezais desde a sua fundação e mantém aterrando até os dias atuais. Os principais bairros que foram construídos através do aterro de manguezais são: 13 de julho, Jardins, Coroa do Meio, Farolândia e Atalaia.
Os pobres foram expulsos do centro – do quadrado de Pirro – para a construção de uma cidade planejada. Os pobres vão morar no morro. A cultura brasileira é do morro, como por exemplo, o samba e o carnaval. Em Aracaju não Foi diferente.
Este é um dos revezes do projeto modelador: as contradições entre os discursos e a realidade.
O livro “Os Corumbas” de Armando Fontes, escrito em 1933, que conta a vida da família Corumba durante os seis anos que viveram em Aracaju, após saírem de um pequenino vilarejo no interior do Sergipe. E assim, se desenrolam com Geraldo e Sá Josefa os fatos na Estrada Nova ou nas fábricas de tecido Têxtil e Sergipana onde chegaram com cinco filhos, quatro mulheres e um homem. No entanto, os infortúnios são tantos, que neste pequeno espaço de tempo, eles perdem toda a prole.
O romance retrata a realidade da capital vista pela população pobre, bem diferente da imagem divulgada de cidade moderna.
Os funcionários das fabricas têxtil Sergipe Industrial e Confiança (atual Santa Mônica) moravam em localidades mais afastadas, fora do perímetro urbano, que hoje são bairros de Aracaju, como o Santo Antônio, Carro Quebrado, atual São José, Aribé, atual Siqueira Campos, no morro próximo ao Oratório de Bebé, atual bairro cirurgia, o alto da Rua Laranjeiras. Um morro muito conhecido era o do Bomfim, que ficava na beira do “quadrado de Pirro”, localizado na atual rodoviária “velha” – Rodoviária Augusto Leite.
Aracaju apresenta crescimento no século XX, depois da I Guerra Mundial, onde a produção foi beneficiada pela crise em outros países que saíram derrotados da batalha. Surge assim nas indústrias o turno da noite. Muitos moradores do interior vieram para a capital atrás de riquezas no trabalho nas indústrias, bem como para fugir do sertão da seca, ou até mesmo do cangaço, em especial ao de Lampião. Alguns foram para São Paulo, outros foram para a Bahia na região de Ilhéus trabalhar com o cacau, houve até que fosse para a Amazonas para trabalhar com a borracha.
Tivemos no período o governo de Gracco Cardoso a construção da escola Augusto Ferras com o objetivo de alfabetizar os filhos das famílias que trabalhavam nas fábricas.
O trabalho nas fábricas era uma segunda escravidão. Não havia iluminação, circulação de ar, o que causou muitas mortes por tuberculoses, as mulheres que fossem trabalhar nas fabricas eram desrespeitadas, sofriam inclusive abusos sexuais, os salários eram baixos. O direito trabalhista só surgiu com muito tempo depois.
A cidade moderna do “quadrado de Pirro” era bem diferente da cidade dos pobres, das vilas operárias onde a miséria era muito grande, com moradias de palhas em ruas irregulares – tortas –, abusos sexuais nas fábricas e epidemias.
Outra contradição é oriunda de dois intelectuais, o sergipano Nobre de Lacerda e o francês, radicado no Brasil, Paulo do Walle. Em seu artigo no Jornal Correio, em 24 de abril de 1913, Paulo do Walle abordava o isolamento geográfico e a supremacia de certas famílias que se revezavam no poder como responsáveis pelo atraso de Sergipe, e a cidade de Aracaju como uma “cidade de palhas”.
Nobre Lacerda que é um apologista da modernidade, com discurso modernizador, rebate as críticas de Paulo do Walle, porém, em apenas um aspecto o artigo errou, nos tempos coloniais não existia ainda a cidade de Aracaju, os demais aspectos abordados era a pura realidade para aquela população que vivia fora do “quadrado de Pirro”.
Fundado em 1912 por Florentino Teles de Menezes, o Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe ajuda na criação da identidade sergipana, mudando inclusive a visão que se tinha de Inácio Barbosa, que passa ser visto como um “herói”. O sergipano tem complexo de inferioridade – negatividade sobre o seu passado. O passado é grandioso para o baiano, para os pernambucanos, porém para os sergipanos é melhor riscar o passado de dependência para a Bahia. O passado não forma a identidade do sergipano.
Outro revés da modernidade refere-se a utilização da coisa pública para fins pessoais.
As comarcas não funcionavam, os juízes não tinham liberdade já que era a elite que os escolhiam. A elite escolhia ainda o delegado, a professora e outras funções públicas. Era o período dos coronéis.
A polícia defendia as fazendas, logo a população para se defender teria que ter a sua arma, bem como era a população que construíam suas estradas, açudes etc. Era comum o abuso do coronelismo.
O próprio governo reconhecia que havia precariedade em Sergipe, mas realçava que Aracaju era a cidade mais guarnecida de soldado – discurso modernizador, onde a polícia estava a favor da ordem pública, em favor do discurso da elite, não dos pobres.
Está é uma parte importante da história do Aracaju na visão dos mais pobres.

Bibliografia


Jornal da Cidade. Publicação do dia 21 de novembro de 2010. Artigo: Estudante quer garantir preservação de patrimônio estadual.

PORTO, Fernando. A cidade do Aracaju (1855-1865) – ensaio da evolução urbana. Vol. II, Aracaju: Coleção Estudos Sergipanos, 1945.

SANTANA, Julia Maria de, JÚNIOR, Edson Magalhães Bastos & SOUZA, RosemerI Melo e. Aracaju: Crescimento Urbano e Destruição dos Manguezais. Artigo resultante do projeto de pesquisa Geração de Ambiências Didáticas em Geografia, concluído em outubro de 2003.

SEPLAN - Secretaria de Planejamento da Prefeitura Municipal de Aracaju, 2001.

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